domingo, 17 de maio de 2009

Pura Arte



Não chores pelo teu amor perdido,
Ele é tão pequeno
Não inspira nem um poema;
Não sofra pelo teu filho,
Ele é tão hipócrita
Não merece nem uma via-sacra;
Chores pela arte do horror
Que se espalha como carrapicho na plantação,

Chores por tristes quadros
Pintados pelo holocausto nazista,
Em aquarela, neve e sangue,
Campos de concentração,
Auschwitz, Dora...
Sofra pela melodia de dor
Provocada pelo silêncio agonizante
Da maravilha atômica,
Nem os samurais com suas espadas,
Nem as gueixas com sua sutileza...
Chores pelo ator que representa o terror,
Uma bomba que faz papel de homem,
Um homem que decora seu texto,
Uma oração para o apocalipse...
Sofra com as belas fotos
Que um cenário de guerras oferece

Em matérias no jornal, manchetes,
Crianças raquíticas, velhos doentes,
Fuzis bem cuidados,
Fome, peste...
Pobre Oriente,
Só porque não quer ser Ocidente...
Chores por esse painel do caos,
Com nome de mulher
"Terra"
Que a muito não é virgem
Rasgada, nua e crua
Sob o sol
Sem camada de ozônio
Sem filtro solar...
Chores, sofra,
Não pelo mundo gótico e caótico,
Que também é teu,
Mas pela pura arte de chorar.