quinta-feira, 30 de junho de 2011

O Homem Ensandecido

Seus braços tão frágeis quanto gravetos secos,
tão insistentes quanto carrapicho,
forçando contra o peito a sua única razão,
o que lhe restava de humanidade...a sua última filha.
O corpo de um anjo,
tão raquítica e desnutrida
que parecia se quebrar,
parecia se estilhaçar com o abraço de um pai ensandecido;
Parecia quebrar,
parecia estilhaçar a falsa paz que existia naquele mundo;
E quando Deus teve pena fez a vida se esvair daquela carcaça,
e ele se tornou insano,
insano de dor,
ensandecido.
O homem ensandecido desceu a rua a caminho da feira com os pés descalços,
rachados como o solo de sua terra,
pisando os paralelos sujos de esgoto, sangue e corrupção...
já não sentia mais tocar o chão;
O homem ensandecido olhava o mundo em linha reta
com seus olhos cinza esfumaçados, 
cheios de dor e completamente vazios;
Seu corpo, magro e arqueado, queimado de sol,
sobrevivente no pior dos desertos...O abandono de Deus;
Cruzou a rua chamando a atenção de putas, bêbados e coronéis,
atormentando a realidade hipócrita de todos que o olhavam,
de todos que o viam, insano,
insano de dor,
ensandecido;
O homem ensandecido armou sua alma com toda fúria que continha
e voltou a ser bicho,
zunindo seu facão enferrujado pelo ar e gritando de dor,
com sua voz ensandecida,
com sua agonia irracional (Fora dos padrões)
sua agonia sem maquiagem;
Um projetil disparado ao ar revestido de sentimentos inconsoláveis
atingiu animais de rapina (urubus e carcarás)
apreciadores do silêncio,
que responderam com metal,
traiçoeiros, vil metal, chumbo e pólvora,
transformando o homem ensandecido
em indigente...
Nordestino renitente...
Insano,
insano de dor.