quinta-feira, 10 de abril de 2008

Secular

Mandei que matassem dois mil homens,
E que me trouxessem suas almas em taças de cristal
Para aplacar minha sede secular,
Embriagar minha mente como se fumasse ópio;
Mandei que esquartejassem quinhentas meretrizes,
E que me trouxessem seus corpos em bandejas de prata
Para aplacar minha fome secular,
Saborear o sangue e sentir o prazer da carne;
Mandei que crucificassem cem sacerdotes,
E que me trouxessem sua fé em engenhocas musicais
Para aplacar minha insônia secular,
Adormecer ao som de suas lamúrias por redenção;
Mandei que colhessem uma rosa,
E que me trouxessem sua beleza em um espelho de superfície plana
Para refletir minha imagem secular,
Enganar meus olhos diante do caos que me tornei.




sexta-feira, 4 de abril de 2008

Mito da Caverna 2000

Tire os seus olhos de dentro do pote de conservas,
Olhe pro estranho mundo a sua volta,
E reconheça as sombras, que eram monstros na parede de tua caverna;
Os pássaros, gigantes de metal que cortam os céus,
Os répteis que bebem gasolina cortam o asfalto quente
E os dragões adormecidos que soltam fumaça de suas narinas de chaminé.

Raspe a casca de sal que cobre teus olhos,
Olhe pro estranho mundo que você só conhecia pela TV,
E reconheça os vultos que o néon projetava na parede do teu apartamento;
Estranhas Medusas maquiadas dentro de suas lingeries,
Zeus e Poceidom trocando tiros na marginal que divide a favela da zona nobre
E as horrendas crianças possuídas pelos antigos demônios das latas de solvente.

Derreta a densa camada de cera que envolve teus olhos,
Olhe pro estranho mundo alheio a seu altar,
E reconheça na luz da vela entre imagens de santos a chama do fanatismo;
Homens que matam outros em nome da fé, seja ela qual for,
Maquinas caça-níquel que pregam sermões
E Deuses decadentes com seus testamentos ultrapassados.

Escancare seus olhos e,
Mesmo que o sol te cegue por alguns instantes
Ou mesmo que a poluição faça arder como fogo,
Olhe, sem passividade,
Sem medo de se sentir deslocado,
Pro estranho mundo que é teu.