domingo, 28 de novembro de 2010

O Sujeito

O Sujeito já não pode mais nem ficar maluco
Que todo mundo quer carregar pro psicólogo, hipnológo,
Pra por a culpa nos seus traumas de infância,
Fazer regressão em posição fetal,
Buscar a solução em outra vida;

O Sujeito já não pode mais nem ter livre arbítrio
Que todo mundo quer carregar pro padre, exorcista,
Pra acusar de sacrilégio, heresia,
Fazer uma missa, romaria,
Correr com o diabo pra salvação do pobre coitado;

O Sujeito já não pode nem ter opinião
Que todo mundo quer carregar pro analista, especialista,
Pra conter seu gênio, rebeldia
Fazer terapia, analogia,
Estabelecer relações sociais de hipocrisia;

O Sujeito já não pode nem concordar com Maquiavel
Que todo mundo quer citar O manifesto, O capital,
Relembrar sua origem, ideal
Fazer greve, revolução,
Se manter inflexível e longe de uma mudança possível.


sábado, 20 de novembro de 2010

Instantes

Nem tudo que se passa
Da pra esquecer,
Nem tudo que se acha
Da pra entender;

Instantes do passado
Vem pra assombrar,
Com a força do tornado
Pra me derrubar;

No meio da chuva
Quando desabei,
Em qualquer curva
Por esse mundo eu vaguei (e viajei);

Qualquer guerreiro
Em criança vai se transformar,
Quando o grande pesadelo
Vier lhe fazer chorar;

Nem tudo que se passa
Da pra esquecer,
Nem tudo que se acha
Da pra entender;

Instantes do passado
Vem pra alegrar,
Como o teu abraço
Pra me levantar;

A chuva que cai
Lavando todos os sinais,
E a brisa passa e vai
Levando instantes que não valem mais.

(Esse poema virou música pelas mãos da Banda Chapada Roots. Ouçam o áudio, logo a baixo do meu perfil, na voz do meu brother Mazinho) 



segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Erro Genético

Os homens me disseram que é preciso ser forte,
Mas não me ensinaram a ter força,
Os homens me disseram que é preciso crescer,
Mas não me ensinaram a evoluir,
Os homens me disseram que é preciso ter objetivos,
Mas não me forneceram o menu de escolhas,
Os homens me disseram que é preciso plantar,
Mas não me forneceram as sementes,
Os homens me disseram que todos são irmãos,
Mas me apresentaram suas gloriosas guerras em livros de História,
Os homens me disseram que todos são iguais,
Mas me apresentaram o preconceito como parte de sua cultura,
Os homens me disseram que Deuses já viveram entre eles,
Mas me revelaram que todos foram mortos por eles,
Os homens me disseram que estão no topo da cadeia alimentar,
Mas me revelaram que matam sua própria espécie e não os comem.
O homem um dia descobrirá
Que é a pior das pragas imposta a este planeta,
E assustado por perder o poder da hipocrisia,
Perceberá o quanto fede e quão são podres as suas verdades.
Num ímpeto, um gesto louco,
Mas o único cometido com decência
Em milhares de anos de evolução,
Dará cabo a sua mísera existência
E retornará as profundezas da terra,
Onde servirá de desjejum para os vermes,
E estes quem sabe retomarão o processo de evolução,
Com a consciência tardia absorvida dos dejetos já digeridos,
De que o superior Homo-Sapiens
Foi um erro genético,
Uma aberração da evolução.