sexta-feira, 14 de novembro de 2014

Frankenstein


Não tenho medo da morte, não me preocupa o insondável desconhecido pós vida, pelo menos não agora em vida. Também não temo a velhice, meus cabelos brancos já evidentes ou a calvície inevitável. Previsões catastróficas, baratas, bicho papão ou o capeta também não me abalam. Temo somente que um dia essa bruteza arcana tatuada como código em minhas artérias me transforme de vez em algo rígido e menos humano, qualquer coisa entre o cansaço das decepções, desilusões, fúria e a coragem que move meus ideais, alguns desejos altruístas e o dom de amar. Temo que algum dia pra acordar seja necessário uma descarga elétrica que externa porque minhas conexões cerebrais não suportaram tanta estupidez e hipocrisia impostas repetidamente como ração a um pato que só interessa o foie gras. Temo que os remendos dessas coisas boas se transformem em membros mortos remendados e eu, em meu todo, me torne a criatura de Mary Shelley.