segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Indicação de Filme...


Mary & Max

Animação depressiva explora improbabilidades em busca do significado da amizade.

Mary & Max (Mary and Max, 2009), animação longa-metragem de stop-motion escrita e dirigida por Adam Elliot, é uma exploração de improbabilidades. O filme tem em sua premissa uma chance ínfima e acaba ele mesmo um em um milhão: uma produção com personagens de massinha que resulta absolutamente tocante.
Depressivo no tom e no visual (seria mais sensato chamá-lo de desenho "desanimado", já que muito pouco efetivamente acontece na tela), o filme acompanha dois personagens solitários, cujas vidas se cruzam pelo maior dos acasos: uma página aleatória aberta em uma lista telefônica. Motivada por uma dúvida infantil, a australiana Mary Daisy Dinkle, 8 anos, decide escrever ao nova-iorquino Max Jerry Horowitz, 44 anos. Junto à carta, alguns desenhos, uma barra de chocolate e a dúvida: "de onde vêm os bebês nos Estados Unidos". A correspondência inocente muda a vida de ambos para sempre, iniciando uma história que transcorre por mais de uma década.
A direção de arte é inspiradora. Elliot, dono de um Oscar de curta animado (Harvie Krumpet, 2003), opta por protagonistas caricatos e quase malfeitos de tão simples. Os cenários são muito mais ricos - a Austrália e seus tons terrosos contrastando com a cinzenta Nova York. É tudo proposital. Enquanto uma Pixar capricha em seus personagens principais por dentro e por fora, o animador se arrisca em recheá-los de dor e dúvida, sem uma superfície fofinha e cativante.
Com o palco montado, inicia-se uma longa e verborrágica discussão filosófica sobre religião, vida em sociedade, sexo, amor, confiança e, principalmente, a importância e o significado da amizade. As cartas também refletem a caótica estrutura racional de remetente e destinatário, sempre com um monotonia instigante. Ideias brilhantes ("se ao menos houvesse uma equação matemática para o amor") surgem e são abandonadas em função de outra melhor, mais inocente ou simplesmente irrelevante.
Apesar de tratar de um tema quase extinto, os "pen pals", amigos de correspondência, algo bastante comum poucas décadas atrás, Mary & Max encontra reflexo curioso na modernidade de redes sociais e programas de mensagens instantâneas. Memórias de amigos virtuais não se apagam mais queimando-se as cartas... mas nos blocks deletes de perfil.
Fique com a certeza que os personagens podem ser de massinha, mas o suor e as lágrimas que eles vertem são assustadoramente reais e perturbadores.

Fonte: site Omelete (www.omelete.com.br), texto - Érico Borgo 

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

A fórmula

Todo mundo diz
Que eu deveria estar feliz,
Por estar registrado
Com o direito assegurado,

Ter plano de saúde e assistência,
Contribuir com impostos e previdência,
Fazer projetos, plano de carreira
Usar farda, crachá e toda essa baboseira;

Fico deitado no sofá,
Na TV nada a se aproveitar,
A conta de telefone vai vencer,
Luz, condomínio, o que tenho a perder?

E todo mundo fala que eu deveria agradecer
Depois de tudo o que tive que viver,
Como viciado, imprestável, marginal,
Só porque era original;

Hoje quase sou algo respeitado
Mesmo quando me sinto deslocado
Nesse mundo vil metal,
Por ter que me comportar como um ser social;

E todo mundo diz que eu deveria agradecer a Deus
E abandonar os ideais ateus,
Que deveria confessar meus pecados e me arrepender,
Jazer sob o dogma do não poder;

Eu que já não falo mais de sonhos,
Como se fossem seres tão medonhos,
Agora faço planos para a aposentadoria,
Viver a vida em banho-maria;

Sigo o regulamento que alguém disse que era certo,
E eu que nem conheci esse sujeito tão correto
Ainda tenho que conviver com meu reflexo
Que se deleita ao me deixar perplexo

Quando me diz que tenho muito o que viver,
E que não posso deixar o dia escorrer,
Porque todo mundo me diz
A fórmula exata de ser feliz.