quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Namastê

Mergulhei meus olhos na escuridão
E busquei o núcleo de minha essência,
Aprofundei-me nas chagas de meu coração
E abstive-me do vício da prudência;

Me vi no meio de anjos e aberrações,
Que dançavam de maneira pagã, desobediente,
E eu, cego, tinha lampejos de premonições,
Engajei-me naquele ritual, livre, inconsciente;

Afundei-me no lamaçal da existência
Onde só existe o nada,
Descobri que a alienação do barro é pura impotência,
Sofri entre o questionamento e a resposta não encontrada;

Chorei longas noites de vazio inconsolado,
Quando por olhos telecinéticos, Deus mulher me mostrou,
Que eu procurava no caminho errado
E o sentido da coexistência, então, retornou;

Recebi um amuleto tão pequeno quanto precioso,
Por uma questão metafísica abandonei a necessidade do “por quê?”,
Sabia que o mundo começava agora, com um sentido novo,
E o Deus que abita em ti cumprimentava-me, Namastê.



*Dedico esse poema a meu filho Ruan, que no simples fato de existir me fez renovar meus valores e acreditar novamente em dias melhores.

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Cefaléia

Os cães raivosos mordem minha cabeça com violência,
Procurando rachar a armadura de osso que protege minha consciência,
E eu já estou tão entregue que assisto a toda essa fúria
Com a passividade dos derrotados;


Eles grunhem e mostram suas presas afiadas,
Mais não largam a presa,
Estão querendo perfurar meu crânio de dentro pra fora,
Espatifar meus miolos no chão imundo;


Querem ganhar a liberdade para uivar no mundo real,
Não suportam mais ser prisioneiros dos meus vasos sanguíneos,
Dos impulsos elétricos do meu cérebro,
Não querem mais as trevas do meu subconsciente;


Eles também sofrem...
Choram enquanto experimentam o prazer da dor,
Sabem que a liberdade
Também será a morte da matilha.





segunda-feira, 9 de agosto de 2010

O Jardim de Medusa

Em seu jardim de pedra
Onde reina a solidão
E seu olhar tristonho,
Nada mais lhe resta,

Só suas estátuas ornamentais,
Que não falam
Não te acariciam,
Não dão nem um sentido a mais,

Nada é assim tão triste
Pois nem com o teu reflexo
Podes conversar,
Menos ainda com tuas acompanhantes em riste,

Teus pretendentes não podem nem te admirar,
Tentaram os guerreiros, os viajantes,
Até os vagabundos e os errantes
Petrificaram-se com o teu olhar,

Não será ofendida, jamais, a tua virgindade.
Ficarás frígida e estérica,
Cheia de complexos com seu hímen mineral,
Vagando em seu jardim de pedra pela eternidade.


quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Tempos estranhos, Eras estranhas

Tempos estranhos, eras estranhas
Mundo superficial, surreal,
Criaturas estranhas, monstros estranhos,
Com seus corpos de osso, Aço, chips e memória ram,
Tempos estranhos,
Dias negros,
Crianças corrompidas
Compradas por bruxos
No mercado de almas.
Eras estranhas,
Sinos caóticos,
Tempos vividos
E pessoas apegadas ao vil metal.
Papiros antigos com escrituras feitas de pedra,
Dias azuis,
Estrelas cadentes com esperança que transeuntes
Espaciais peguem carona na mesma.
Vidas alheias,
Carência de truísmo e consistência inconsistente em demasia.
Vidas com algumas coerências,
Mortais querendo sustentar a insustentável leveza do ser.
Vidas estranhas,
Tempos estranhos,
Todas as alucinações não fazem sentido,
Entrando em contato imediatamente com as pilhérias,
Seguindo em direção mortal,
Mas completamente incoerente.




(Fiz esse poema em parceria com meu amigo De Rocha, vulgo Ricardo Durães, em um tempo estranho...)