quarta-feira, 28 de março de 2012

Servimos hoje um café sem açúcar especial, preparado por uma amiga que admiro muito. Boa degustação a todos.

Anti-Social

Desejo tragar esta dor burguesa
A nicotina, narcótico de um mundo vão
Este cheiro de metal oxidado
Teoremas, tema inventado
Ferro ferido, ferrugem matemática
Perdida, fumaça metafórica
E num texto o pretexto, vã gramática
Da rima desarrumada, hiperbólica.

Varrer o coma acometido em tédio
Vestir os homens nus de pão e almas
Alcoólica existência, nervo sério
Vômito indômito, crianças peladas.
Olhos sem íris, Ísis maltratada.

E no instante, pelves perplexas
Geram camadas de gente, desconexas
Língua ácida, girândolas anacrônicas
De traças, o estrago,
Da sede, o indulgente trago
Páginas puídas, anatômicas
Um livro rabiscado.

(Jailda Santana)


quarta-feira, 14 de março de 2012

José Malandragem

Fez da vida um cordel,
Da sua tenda um bordel,
Dos seus sonhos samba enredo,
Da sua noite a manhã bem cedo;

Era fácil ouvir a alegria que passava
Nas noites de divina farra,
Sentava ao pé da lua
E movimentava toda a rua;

Tinha o corpo fechado e protegido
Pelo santo que era regido,
No peito o colar de contas vermelho vivo,
De Iansã era filho querido;

Os mais novos o admiravam,
As moças suspiravam,
O mais velho: Conheço bem a peça!
E Zé Malandragem fazia a festa;

No dia do seu nascimento
Mãe Preta achou atrevimento,
Como é que um branco sarnento
Nasce com tanto mamolengo;

Pras putas era um rei,
Quantas moças? Nem sei.
Pro pai de boa família
Temor por sua filha;

Mas uma triste madrugada chorou
Que a malandragem encerrou,
E o comentário de desgosto
Provocou grande alvoroço;
  
É que uma moça donzela,
Dentre todas a mais bela,
O coração do home roubou
E pro altar o carregou;

Mas “malandrear” não é pecado,
Quem tem ginga não fica parado,
Onde tiver som de batucagem
Vai sempre ter José Malandragem.