quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Eutanásia

Venha beijar meus lábios
com o calor da paixão
que tua presença inspira;
Beije-me como se fincasse pregos em minha língua.
Tampe meus olhos e escureça minha visão,
para que eu enxergue apenas com meu cérebro,
que se enche de medo
em meio há escuridão.
Fale ao meu ouvido,
obscenidades, palavras de um ritual profano,
provocando arrepios por todo o meu corpo.
Encharque minha boca com cianureto,
sumos venenosos, porções letais.
Extraia meu coração
com tuas mãos,
segura-o ainda pulsando
e sentindo escorrer por entre teus dedos
meu sangue quente,
devora-o como o fruto proibido.
Petrifica todo o meu corpo,
faz minha pupila dilatar com o teu horror,
e deixa-me sentir o suave cheiro de prazer
que teu corpo exala neste instante.
Arranque-me o último grito,
quase um gemido de gozo,
deitado, entregue em teus braços,
eternamente.




segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Ícaro

De onde vem esse intenso desejo de voar,
Como se fosse natural ao homem
Poder tocar as nuvens suspensas no ar,
Saber pra onde vão os balões quando somem;

Me perder na imensidão do azul celeste,
Voar mais alto, até onde ninguém se atreve,
Sentir o corpo sem tensão, a alma leve,
Descobrir que a eternidade é só um momento breve.



Flerte sem fim

A tua boca
em minha pele nua,
Teus dentes
Devorando minha carne crua,
Teus dedos
emaranhados em meus cabelos
E teus lábios
sufocando a minha boca;
Enquanto a lua lá fora,
suspensa num céu negro,
povoa os sonhos
daqueles que não tem com quem sonhar;
A minha língua
prova o teu suor,
Minha saliva
evapora no calor do teu mamilo,
Minhas mãos
se tatuam em teus seios,
Meu umbigo
roça teu umbigo nu;
Enquanto do outro lado do mundo
o sol queima as horas,
e os dias passam sem sossego
para aqueles que não tem pra quem doar as suas horas;
E meus dias se vão...
E minhas noites se erguem...
Sem a tua presença tudo é solidão.




(*Foto de Samara Sodré, minha amiga coca-cola)

domingo, 17 de maio de 2009

Pura Arte



Não chores pelo teu amor perdido,
Ele é tão pequeno
Não inspira nem um poema;
Não sofra pelo teu filho,
Ele é tão hipócrita
Não merece nem uma via-sacra;
Chores pela arte do horror
Que se espalha como carrapicho na plantação,

Chores por tristes quadros
Pintados pelo holocausto nazista,
Em aquarela, neve e sangue,
Campos de concentração,
Auschwitz, Dora...
Sofra pela melodia de dor
Provocada pelo silêncio agonizante
Da maravilha atômica,
Nem os samurais com suas espadas,
Nem as gueixas com sua sutileza...
Chores pelo ator que representa o terror,
Uma bomba que faz papel de homem,
Um homem que decora seu texto,
Uma oração para o apocalipse...
Sofra com as belas fotos
Que um cenário de guerras oferece

Em matérias no jornal, manchetes,
Crianças raquíticas, velhos doentes,
Fuzis bem cuidados,
Fome, peste...
Pobre Oriente,
Só porque não quer ser Ocidente...
Chores por esse painel do caos,
Com nome de mulher
"Terra"
Que a muito não é virgem
Rasgada, nua e crua
Sob o sol
Sem camada de ozônio
Sem filtro solar...
Chores, sofra,
Não pelo mundo gótico e caótico,
Que também é teu,
Mas pela pura arte de chorar.