Todas
as pessoas possuem, basicamente, a mesma anatomia. Dois braços, um nariz, um
dedão em cada pé, dois joelhos, uma cabeça, enfim, temos praticamente a mesma
fôrma. Porém quando a química do amor acontece passamos por uma metamorfose que
foge ao nosso controle, nos transformando em uma mistura de corpos muito louca.
Não
se assuste, não estou falando que você virou uma espécie de Frankenstein! A
mudança é invisível e a maioria dos enamorados não entende que ela acontece,
apenas sentem as diferenças no organismo.
De
repente percebemos que dois braços são escassos pra abraçar, que é preciso de
quatro pra poder além de segurar também sentir seu tronco cercado, que o futuro
se torna menos obscuro porque temos quatro olhos olhando pro mesmo horizonte, e
que dois pés são suficientes pra andar, mais pra dormir é necessário um
terceiro.
Aprendemos
que a pele se aquece com nossas quatro mãos, que o nosso nariz adora estar
pregado no segundo pescoço e que pra emagrecer podemos por as duas pernas pra
correr, entretanto com nossas quatro juntas queimamos mais calorias com mais
prazer.
Revezamos
as costas na outra barriga ou a barriga nas outras costas e descobrimos que
metade nossa pode corre pro quarto quando uma barata aparece porque a outra vai
estar na sala com a sandália em punho. Entendemos que medo passa quando nossos
vinte dedos estão entrelaçados, que o gosto do sorvete é ainda melhor na outra
boca e que existe uma música que foi feita pra os nossos quatro ouvidos. Nunca
vamos nos conformar com as cadeiras de cinema porque os acentos não são pra
bunda dupla!
E
por fim nos conscientizamos que o nosso coração, que antes eram dois, se tornou
um, batendo no mesmo ritmo, disseminando em nós a vontade de fechar os quatro
olhos, entrelaçar os vinte dedos, enrroscar as quatro pernas, colar nossas duas
bocas e vivermos nossas duas vidas em um único sonho.
Para Fernanda Cunha, minha metade.