segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Nossos Silêncios

O celular toca, por reflexo condicionado cerro os olhos mesmo usando os óculos, para identificar a chamada no visor. Atendo e imediatamente do outro lado uma voz seca me dispara:
 - Alô...
- Oi, e aí como vai? Tudo bem?
- Tudo...
(Pequeno intervalo de silêncio) Percebo o enorme desanimo que impregna sua voz.
Continuo:
- Por aqui tá tudo em paz também...
- É...?
- Ia te ligar, mais tava sem crédito, como estão todos por aí?
- Bem, tá todo mundo bem...
(Um intervalo um pouco maior)
Não sei bem o que falar, gostaria de dizer algo animador, ter uma boa noticia:
- Acho que vou aí na próxima semana, vai ser rápido mais preciso ir, já até negociei a folga no trabalho pra poder viajar com mais tranqüilidade.
-Vem até aqui?
-Claro! Vai ser um pouco corrido, mais vou sim.
-Que bom...
-E o que me conta, alguma novidade?
-Não. Nada de novo aqui, tudo do mesmo jeito... Parece que nada vai mudar nunca...
(Um suspiro pesaroso e o silêncio dramático)
Percebo que nada do que eu disser vai animá-la. Aquele era um dialogo inútil. Não conseguiremos dividir nossas angustias. Eu permanecerei fingindo que estou bem e ela insistindo em me mostrar o quanto estava sofrendo. Sem acusações, me imputava a posição de co-responsável de sua tragédia pessoal. Cansado, vacilo e é ela quem retoma a conversa:
-Tá bom, só liguei pra saber como é que tava. Durma bem, tchau. 
Como se levasse um soco, tento reagir:
- Espera! Tá acontecendo alguma coisa?
- Não tá tudo bem... (Com voz de choro)... Boa noite dorme com Deus, tchau.
(como se algum de nós dois realmente acreditasse em deus).  
Já percebendo o tom de pena e tristeza em minha voz, respondo:
- Tá, boa noite dorme bem...
E, sentindo aquela conhecida angustia no peito, quase sussurrando:
-... te amo.


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