quarta-feira, 14 de março de 2012

José Malandragem

Fez da vida um cordel,
Da sua tenda um bordel,
Dos seus sonhos samba enredo,
Da sua noite a manhã bem cedo;

Era fácil ouvir a alegria que passava
Nas noites de divina farra,
Sentava ao pé da lua
E movimentava toda a rua;

Tinha o corpo fechado e protegido
Pelo santo que era regido,
No peito o colar de contas vermelho vivo,
De Iansã era filho querido;

Os mais novos o admiravam,
As moças suspiravam,
O mais velho: Conheço bem a peça!
E Zé Malandragem fazia a festa;

No dia do seu nascimento
Mãe Preta achou atrevimento,
Como é que um branco sarnento
Nasce com tanto mamolengo;

Pras putas era um rei,
Quantas moças? Nem sei.
Pro pai de boa família
Temor por sua filha;

Mas uma triste madrugada chorou
Que a malandragem encerrou,
E o comentário de desgosto
Provocou grande alvoroço;
  
É que uma moça donzela,
Dentre todas a mais bela,
O coração do home roubou
E pro altar o carregou;

Mas “malandrear” não é pecado,
Quem tem ginga não fica parado,
Onde tiver som de batucagem
Vai sempre ter José Malandragem.


2 comentários:

  1. Muito bom, ao ler minha imaginação foi ao tempo da boemia.
    Mesmo sabendo que nitidamente podemos trazer esse texto para o tempo contemporâneo não teria a mesma afeição que nessa espoca.

    Brilhante texto, parabéns Higão.

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    1. A ideia era justamente essa Israel, imaginar um tempo mais Romântico. Obrigado pela sua visita, sinta-se a vontade para vir tomar um cafezinho amargo sempre que desejar. Grande abraço.

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