A sensação que tenho é de que algo está fora do lugar,
como se a mobília da sala de estar tivesse sido substituída pela da cozinha, entretanto,
eu sou o único a perceber.
É como se carregasse um barril de pólvora, nas costas,
prestes a explodir e nessa explosão meu corpo ficará em pedaços divididos entre
o que eu vejo e o que você ignora. Não sei como explicar, eu cerro os olhos pra
ver o céu azul cristalino, todavia, minha retina registra um futuro cinza
relampejante. Dizem que é a sensibilidade do poeta, enxergar sempre o drama à
frente do seu caminho... Pobres almas românticas.
Sinto que sou consumido por esse sentimento, essa ambiguidade
paradoxal, e não encontrarei fuga desse universo paralelo enquanto não
conseguir beber tua verdade.